quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cala Boca Já Morreu...

Por que escrever, editar e divulgar um blog? Porque nos consideramos artistas, criadores, agitadores de um novo movimento, mesmo que em espaço reduzido e delimitado?  Até gostaria de estar fundando um movimento estético, mas para isso, precisaria de uma geração dispostas a romper com uma vigência, mas… quem tem consciência para ter coragem, quem vai romper com os padrões que se ruminam tempo após tempo, o mais do mesmo?!, ainda mais em tempos de poéticas tão isoladas, dispersas, e, muitas vezes, carentes de um projeto consistente… em tempos onde os aparelhos ideológicos do estado e a falsa democratização massificada das mídias diluem e escondem os discursos autoritários… Quem?!

Essa situação é nossa angústia: não saber ao certo quem é o inimigo, não saber a quem atacar, não saber de onde vem o tiro.
Contudo, essa angústia não elimina uma necessidade básica e raramente suprimida de todo ser-humano: a expressão e a comunicação Libertária: A Contra-comunicação.

Na ânsia ociosa dessa necessidade, busca-se o melhor meio de supri-la, e este é sem dúvida é a Arte Digital. A linguagem poética é a mais libertária forma de expressão, a crítica pode até tentar cerceá-la, cercando de teorias, regras e classificações, padrões, hierarquias e cânones.  Mas, é justamente quebrando as regras que a ela impõe que a arte sobrevive, se renova e (se) reinventa. Por meio da arte, pode-se recriar o universo, montar uma realidade paralela toda feita de signo. A ‘artinventiva’ é o verdadeiro espaço de democratização da linguagem, onde pode-se criar a sua própria negando todas as regras técnicas, gramaticais, morais, ideológicas.  Negando a própria arte, deslendo e desconstruindo a tradição.

A arte transcende. A arte se subverte e se recria numa seqüência histórica auto remissiva de valores interpretantes… a arte é uma arma poderosa e perigosa.

Ela é perigosa, pois, produzindo-a, encontramos, enfim, o inimigo contra o qual lutar: o tão “admirável mundo novo” o "Big Brother" que é o padrão, a robotização, a maquinização, a tarefa ideológica da homogeneização. Tudo aquilo que nos cala e nos nega altoridade , que nos situa no mundo como meros fantoches ouvintes/receptores e nunca como falantes/produtores. Nós ouvimos (a televisão, a música no rádio, o jornal, a autoridade e até a Voz do Brasil! rsrs) e nunca somos ouvidos, como se não tivéssemos nada a dizer, assim, nos relegam à pior forma de isolamento: aquele, entre um mar de vozes, onde a sua se dilui, se perde e não é ouvida.

A expressão artística consciente, que se inscreve historicamente, que traduz para sua linguagem os sinais de seu tempo e de um passado que pretende ler e iluminar em face de um projeto do presente que se projete para o futuro, como roteiro de uma nova história, põe em cheque toda forma de autoritarismo ideológico e estético dos meios de comunicação da suposta era das mídias democráticas. A representação do discursos e padrões por meio da metalinguagem, do signo icônico, que interpreta, critica e evidencia sua vacilação, põe em colapso todos os padrões, toda a certeza, criando linguagem e estéticas próprias.

A produção artística é contra-poder, contra comunicação, é libertação.

Na aldeia de pedra que semeia ferro, somos sós, somos todos inelutavelmente sós, o sujeito pós?-moderno é terrivelmente só (ou você nunca sentiu uma “punhalada”? Ou nunca esteve fora da roda, “como um indigente”?). O romance, como gênero literário da modernidade, éuma prova disso: “A origem da poesia é o individuo isolado, que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações principais e que não recebe apoio nem sabe dá-los”.

A escrita é uma experiência solitária. Devemos, por tanto, guardar o que escrevemos em um baú ou queimar tudo?

Acredito que não, acredito que necessitamos da expressão e comunicação Libertária, sem nos preocuparmos com juízos de valor, sem nos preocuparmos se agradamos ou desagradamos, sem nos preocuparmos se ferimos morais ou convicções quaisquer que sejam, sem nos preocuparmos com a crítica, até porque, para haver crítica, é preciso que alguém ouça nosso grito. Melhor gritar e ser ouvido, ainda que desagradando, incomodando, do que permanecer eunucamente mudo e servil.

Não tenho grandes pretensões, só quero cantar, pouco importa se saio do tom ( o essencial é querer cantar), pois é exatamente como disse Oscar Wilde: “Todos estamos na sarjeta, mas alguns de nós preferem olhar as estrelas”.

Assim, te convido ( você que estás se dispondo a ler isto neste momento) a fazer o mesmo.  Somos todos cantores, basta ter pulmões e querer cantar.

Canta, Berra, Escarra, Vomita, Esporra, Regurgita tuas neuroses…

Cala Boca Já Morreu!!!

Texto escrito em 25/03/1999
Luís Carlos


Um comentário:

  1. Luis, me senti super contemplada no seu texto, tanto pelo sentido de solidão que a escrita possui, como pela contra-cultura ou comunicação alternativa que representa.

    Adorei blog e tem tudo pra ser um sucesso, mas lembre de atualizar diariamente.

    Já tô te seguindo!
    CALA A BOCA JÁ MORREU, eu falo mesmo...hehe

    Abraço

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