Por: Luís Carlos Nunes
Diante de tantas
declarações e posicionamentos apaixonados acerca da ponte sob o Rio Preto, bateu em mim
uma enorme curiosidade em saber mais sobre a debatida edificação. Desde que por
aqui aportei, sempre ouvi muitas história que retratam experiência e fatos
ocorridos, antes e depois de sua construção. Certa ocasião conversando com uma
amiga, a mesma me confessou já ter namorado muito, ao entardecer em suas toras
de sustenção, também ouvi que muitos ao pularem, só não se afogaram devido à
madeira que serviu de salva-vidas. Uma das definições da história é que ela é um profeta com
os olhos voltados ao passado e quem não há tem não participa do futuro. No sentido de resgatar parte da história de Formosa do Rio Preto (nesta oportunidade a saga da ponte), compreender o que causa tantas paixões, e saciar minha
curiosidade, conversei no domingo (19/mai) com a senhora Éster Dias Araújo, premiada
e respeitada historiadora da região oeste baiana que no auge de seus 78 anos
mostra total lucidez e amor por sua terra. Dona Tézinha como é carinhosamente
chamada, é uma pessoa apaixonante, que entre esforços mentais em busca de recordações,
detalhes passados e consultas aos seus 3 livros publicados, contribuiu
imensamente em nossa busca. Com sua fala melodiosa e posições poéticas foi
auxiliada pelo esposo, senhor Jardelino José Dias, ou simplesmente Teté. Boa
leitura!
Formosa era uma
pequena vila, a vida era muito dura por aqui. Lembro que tudo o que acontecia
em Formosa girava em torno do barco a vapor “Jansen Melo” que vinha e aportava
por aqui 1 vez por mês, puxando uma grande canoa de alumínio e comercializava
diversas mercadorias, entre elas: couro beneficiado, carne, frutas, cereais, querosene,
gasolina enlatada, dentre outros. Vivíamos em completo isolamento com resto do
mundo!
Diante de longos anos de atividades comerciais feitas de Juazeiro a Formosa por esta embarcação, chega enfim o seu ponto final.Em janeiro de 1960, deixando uma lacuna muito grande na vida comercial e também poética de Formosa, O Jansen Melo deu o seu último adeus às águas do Rio Preto, deixando o som melancólico do seu apito, ao dobrar a curva do rio, gravado nos corações dos Formosenses.Os embarques e desembarques da pessoas que viajavam a bordo desse navio, eram acontecimentos de grande destaque na vida social de Formosa, época em que as pessoas pareciam ter um pouco mais de calor humano.... Ao som do saudoso apito do Jansen Melo na alegria da chegada ou na tristeza da partida parecia ouvir-se a palavra “Amor”...Com o desenvolvimento rodoviário, surgiram grandes dificuldades na travessia das pessoas, animais e carros de uma margem a outra do rio cujo tráfego era feito em canoas. Foi então que o Sr. Casemiro Marques resolveu instalar um ajôjo favorecendo aquele movimento.Completava a paisagem daquele ponto pitoresco mais conhecido por “Porto do Vapor”, uma construção de madeira feita ao estilo palafita por causa das cheias constantes no rio, a qual recebeu o nome de “Escorrega”. Ali bebia-se uma boa pinga, respirava-se um ar puro e apreciava-se o belo panorama daquela embarcação cujas correntes presas a um cabo de aço deslizavam nas águas de uma margem a outra do rio. Incluía-se também àquela paisagem, os velhos coqueiros e bananeiras com quintais de beira do rio, alguns ainda existentes. (Extraído do livro: “História de uma cidade Formosa, 1ª edição, 2009, pgs. 48 e 56, autora: Ester de Araújo Dias)
Foi então que na década
de 1960, José Guedes se reuniu com outros comerciantes no sentido de montar
fundo para a construção de uma ponte sob o Rio Preto.
Para a empreitada foi
trazido do município de Barra o senhor Modesto, homem especialista em
construção de pontes que trouxe uma equipe de homens já acostumados ao serviço.
Foram meses e meses de muita labuta, os trabalhadores se embrenhavam nas matas
e com machado cortavam imensos pés de Aroeira que depois com auxílio de carros
de bois e mulas puxavam a toras pra fora do mato até onde ficava um caminhão
que transportava a madeira bruta até as margens do Rio Preto. Muita gente ia
ver o trabalho onde serrotões, machados e ferramentas de carpintaria produziam
uma espécie de sinfonia.
Na inauguração, houve
grande festa com muita gente querendo subir na obra acabada, outros tinham medo
por achar que não era segura. De certo, ela resiste até hoje com algumas
alterações. A ponte original era mais baixa e devido à madeira ser lavrada
manualmente a passarela foi coberta por barro como forma de nivelamento.
Essa ponte foi um
grande salto para toda região, considerada para a época como uma grande obra, o
que trouxe status, desenvolvimento social e econômico para Formosa do Rio
Preto. Através dela, ampliamos nossos horizontes, pudemos através dela ter mais
conforto. Sob a ponte, com o passar do tempo, caminhões vindo de Barreiras,
Piauí e até de outros estados vinham para comprar e vender mercadorias, nossa
vida mudou muito, pois ela até a abertura da BR 135 foi nosso ela com o mundo.
Paus de Araras também vinham de Corrente do Piauí arrebanhando aqueles que
desejavam seguir para Brasília ou São Paulo.
No ano de 1980, acorreu
uma forte cheia no rio, o que causou grande avaria na edificação arrancando ou
abalando algumas vigas de sustentação, com as águas passando por cima lavando o
barro e também arrancando algumas tábuas da passarela.
A ponte precisou de
reforma e recolocação de tábuas e também de seu alteamento, o serviço feito não
foi grande, prova disso é que a base é praticamente a original da década de 60.
Hoje ela é por lei, um patrimônio histórico e merece todo o nosso respeito e
atenção”.
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