Da redação Nova Fronteira
Os advogados da região da Bahia estão se
mobilizando para um Ato Cívico de Protesto marcado para o próximo dia 29 de
agosto, nas dependências da Câmara Municipal de Barreiras. A Subsecção de
Barreiras da Ordem dos Advogados do Brasil elaborou um manifesto expressando a
indignação dos profissionais da advocacia com a situação dos órgãos da Justiça
Estadual, desprovidos de meios humanos e materiais aptos a solucionar os
conflitos de interesses.
Pretende a OAB que sua manifestação seja ouvida
pelas autoridades do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, especialmente
pelo Tribunal de Justiça do Estado da Bahia e pelo Conselho Nacional de
Justiça. A OAB deseja, também, contar com o apoio da sociedade civil e das
entidades que a representam, tanto porque o principal prejudicado com a crise
judiciária é o próprio cidadão, como porque considera ser indispensável grande
pressão da opinião pública para que o Poder Público saia da inércia.
Embora, de um modo geral se saiba que as
deficiências do Poder Judiciário se verifiquem em todo o território nacional em
grau maior ou menor, sustentam os advogados barreirenses que a situação local é
‘deplorável’ tal qual como, recentemente, o Ministro Joaquim Barbosa qualificou
o desempenho do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia em questões relativas à
improbidade administrativa.
A fim de demonstrar o apoio da população os
advogados estão promovendo um abaixo-assinado, pois a Justiça Estadual se acha,
efetivamente, às voltas com milhares de processos sem solução em decorrência da
manifesta insuficiência do número de juízes e de serventuários, além da má
organização administrativa, o que se infere por ser este o quadro de
praticamente todas as comarcas baianas. Para melhor esclarecimento dos leitores
colhemos entrevista com a presidente da Subsecção de Barreiras, Dr.ª Cristiana
Matos Américo.
Jornal Nova Fronteira: Qual o objetivo do Ato
Cívico de Protesto promovido pela OAB/Barreiras?
Drª Cristiana Matos Américo: O principal objetivo é
chamar a atenção da sociedade e dos poderes públicos constituídos, entre eles o
Tribunal de Justiça, o Governo do Estado e o Conselho Nacional de Justiça, para
a situação caótica que se encontra a advocatícia no Oeste do Estado. Em
novembro de 2007 foi publicada a Lei 10845 de organização judiciária que cria
em Barreiras 16 Varas, entre Civis, Criminais, Juizados Especiais, Infância e
Juventude e Fazenda Pública, e passados seis anos o município conta apenas com
seis Varas implantadas, que são Juizado Especial, uma Vara da Fazenda Pública,
três Varas Cíveis e uma Vara Criminal, sob o comando de cinco juízes, uma vez
que o Juiz Titular da 2ª Vara Cível precisou se afastar por problemas de saúde
no início de 2013 e até o momento o Tribunal de Justiça da Bahia não nomeou
outro Juiz.
JNF: Como fica a situação da 2ª Vara Civil, que
também responde pela Vara da Infância e Juventude?
Drª Cristiana: Esse é um grande problema. Isso quer
dizer que a Infância e Juventude da região está totalmente abandonada, sem Juiz
para julgar os processos.
JNF: Esse manifesto envolve os magistrados no
Oeste?
Drª Cristiana: Gostaria de deixar claro que essa
manifestação não é um manifesto de indignação contra os Juízes da região Oeste,
pois eles também são vítimas desse sistema implantado, inclusive tem magistrados
com sobrecarga de trabalho administrando mais de 10 mil processos em uma única
Vara. Para Exemplificar, o Juiz Ronald de Souza Tavares Filho, é diretor do
Fórum, Juiz Eleitoral da 70ª Zona Eleitoral, Titular da 1ª Vara Civil e
substituto em Santa Rita de Cássia e Formosa do Rio Preto.
JNF: Então a classe entende que a culpa não é dos
Juízes?
Drª Cristiana: Certamente. A culpa da morosidade
judicial não é dos juízes e nem dos serventuários da justiça, pois por mais que
eles trabalhassem 24 horas por dias, não dariam conta do serviço. Enfim, nossa
indignação é com a cúpula do judiciário baiano que não volta seus olhos para a
região Oeste da Bahia. A falta de servidores em Barreiras faz com que existam
desde setembro de 2012 mais de 2 mil processos pendentes no setor de protocolo
e distribuição, uma vez que neste setor só existe um funcionário para
distribuir os processos em suas respectivas Varas. São ações cautelares, ações
de alimentos, enfim, toda uma sorte de ações que estão paradas, a espera de
serem encaminhadas para as Varas correspondentes.
JNF: Como fica a relação entre o advogado e o cliente
em função dessa morosidade?
Drª Cristiana: Nós temos prejuízos de toda a
natureza, entre eles o desgaste entre as partes, pois o cliente, que não
conhece a realidade da estrutura judiciária capenga, imputa ao advogado a
morosidade do processo. Outro prejuízo que recai na conta do advogado é quanto
aos contratos de risco. Muitos clientes não têm dinheiro para antecipar os
honorários advocatícios e fica acordado entre as partes o pagamento de
percentual ao final do processo. Agora eu pergunto. Como fica a situação de um
advogado em casos que levam 10, 15, 20 anos para serem julgados? Como vamos
manter nossos escritórios de advocatícia, pagar nossos funcionários? Além
disso, há uma demanda reprimida, pois como os processos demoram tanto, muitas
pessoas acabam não procurando seus direitos e desistem de contratar advogados.
Questões como essas a cúpula do Judiciário Baiano não responde.
JNF: O evento na Câmara de Vereadores é só para os
advogados de Barreiras?
Drª Cristiana: Não. Nós contamos com a presença
de advogados de todos os municípios do Oeste da Bahia. São nove municípios que
fazem parte da Subsecção da OAB de Barreiras, com um efetivo de mais de 600
advogados cadastrados, mas queremos mesmo é a participação da sociedade civil,
pois são eles os maiores prejudicados com este caos em Barreiras imposto pelo
Judiciário Baiano.
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