Em 1970, enquanto a jovem Dilma Rousseff estava presa, em São Paulo, e a tortura corria solta nos porões da ditadura, a seleção brasileira encantava o mundo e o futebol era o "ópio do povo"; "90 milhões em ação" era o hino que amortecia a repressão; hoje, Dilma é a presidente encarregada de organizar uma Copa do Mundo e milhões de brasileiros não se sentem parte da festa; cabe a ela, assim como a seus adversários, encontrar respostas para tanta insatisfação
"Noventa
milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção; de repente é aquela
corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão". Em 1970,
enquanto a repressão do regime militar corria solta nas ruas, a presidente
Dilma Rousseff estava presa, em São Paulo. Do presídio Tiradentes, a
ex-guerrilheira usava um rádio de pilha para se conectar com o mundo exterior e
acompanhar os jogos da seleção brasileira, que encantava o mundo, no México,
com Pelé, Jairzinho e Tostão. Entre uma partida e outra, o hino daquela seleção
tocava insistentemente e ficou marcado como o símbolo de "um Brasil que
vai pra frente", apesar das desigualdades, da violência, das injustiças e
da tortura que ocorria nos porões da ditadura militar.
Hoje,
Dilma é a presidente da República encarregada de preparar o Brasil para a Copa
do Mundo de 2014, que, na prática, começou no último sábado, com a estreia do
Brasil na Copa das Confederações. No estádio Mané Garrincha, a primeira vaia.
Uma vaia relativizada, uma vez que o público que ali estava não era exatamente
representante do povo. Dois dias depois, no entanto, multidões tomaram o Brasil
num dos maiores protestos populares da história, que reuniram mais de 250 mil
pessoas em várias metrópoles. E a manifestação difusa, que começou contra o
aumento nas tarifas de ônibus, tem, sim, como um dos principais alvos os gastos
na preparação da Copa do Mundo de 2014. Para os próximos dias, os jovens
prometem parar as cidades que são sede dos jogos da Copa das Confederações.
Para
um país que avançou nos últimos anos, reduziu desigualdades, mas ainda não
oferece transporte, segurança, educação e saúde de qualidade à sua população,
muitos manifestantes questionam: "Copa para quem?". No primeiro jogo,
contra o Japão, havia convidados vip e brasileiros que puderam pagar R$ 280 por
um ingresso. Estádios que foram implodidos e depois reconstruídos, como a Fonte
Nova, na Bahia, e o Maracanã, também deixaram um ponto de interrogação em
muitas pessoas. E a construção, com recursos públicos, de uma arena como o
Itaquerão, em São Paulo, cidade que já dispunha do Morumbi, do Pacaembu e do
Palestra Itália, ainda levanta dúvidas sobre sua real necessidade num país tão
carente.
A
Copa de 2014, certamente, poderia projetar a imagem de um Brasil vencedor, que,
até recentemente, era a "bola da vez" dos mercados internacionais.
Mas a euforia passou e aqueles 90 milhões, que hoje são quase 200 milhões, não
se sentem parte da festa. Ao contrário. Pegam ônibus lotados, enfrentam a
violência diária e, em muitos casos, não enxergam perspectivas de progresso,
apesar dos avanços reais nas condições de vida. Querem mais – e isso é
legítimo.
Cabe,
agora, à presidente Dilma Rousseff, assim como a seus adversários, oferecer
respostas às novas demandas e apontar, com clareza, que futuro enxergam para a
massa que se levantou.
Abaixo, uma lembrança
do que era o clima do Brasil na década de 70:
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