Esculachar, zoar, intimidar e caçoar são verbos conjugados na prática
por alunos das escolas brasileiras. Agressões contra os colegas são admitidas
por 20,8% dos estudantes. O resultado faz parte da Pesquisa Nacional de Saúde
do Escolar (Pense), que ouviu cerca de 100 mil jovens de 13 a 15 anos
matriculados no 9.º ano do ensino fundamental em escolas de todo o país. O
estudo também revela que 35,4% dos alunos confirmam ter sido agredidos,
humilhados ou hostilizados pelos colegas nos 30 dias que antecederam a
pesquisa, feita entre abril e setembro de 2012. Nesse cenário, 7,2% disseram
que a prática é frequente e 28,2% afirmaram que ocorre raramente ou às vezes.
Ainda segundo a pesquisa, o bullying atinge mais os meninos e mostra-se
mais recorrente nas escolas privadas do que nas públicas. A Pense foi feita a
partir de uma parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto o governo avança, buscando conhecer a dimensão do problema
entre alunos das diferentes regiões do país, as políticas públicas não
acompanham. Para o psicólogo Cloves Amorim, professor de Psicologia na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), todos os projetos de lei
que tratam do tema são “péssimos e equivocados”, pois têm o princípio do
diagnóstico e da punição, quando deveriam promover a prevenção, propondo uma
cultura de paz nas escolas.
“São matérias originadas no calor de eventos, quando políticos
oportunistas correram para elaborar leis que são frágeis conceitualmente e que
não têm clareza do fenômeno”, avalia Amorim.
Vítima
A forma como o governo atua contra o bullying também precisa melhorar
na opinião de Guilherme Dobrezanski Marques, que conviveu com o bullying nos
anos escolares principalmente por ser “tímido e franzino”. Hoje, Marques tem 25
anos e, formado em Direito, estuda o tema em sua dissertação de mestrado. “Os
projetos de lei criminalizam o bullying, o que é errado. O bullying se combate
com educação e com a qualificação das instituições de ensino para lidarem com
ele. Não com punições”, diz.
De forma geral, as escolas não se mostram preparadas para lidar com a
questão. Marques diz que, nos tempos de agressões, nunca pediu socorro, pois
tudo ocorria na frente dos professores, que nunca interviram. “Fora do colégio,
eu também não procurava ajuda, até porque é uma situação humilhante que você
vai ter que se expor e, por vergonha, acaba não contando para alguém”, diz.
Bullying não é brincadeira
O que diferencia o bullying de uma brincadeira é
a intenção do agressor de causar sofrimento, a frequência das ofensas e o
desequilíbrio de poder que leva à intimidação da vítima. O fato de ainda haver
muita gente que encara o bullying com desdém atrapalha o enfrentamento ao
problema. Achar que o bullying é frescura ou que se trata de uma dificuldade
que torna a vítima mais forte é um erro comum, segundo o psicólogo Cloves
Amorim. “O que mais se quer na vida é se sentir pertencente a um grupo, é
conquistar a confiança de um igual e, por isso, é tão terrível quando os pares
menosprezam”, diz a pedagoga Luciene Tognetta. (Fonte: Gazeta do Povo/Educação)
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